O Dom do Espírito Santo
Um Estudo de João 20:22
por
Dr. Sam Storms
“E havendo dito isso, assoprou sobre eles, e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo” (João 20:22).
“A primeira coisa que Jesus fez, imediatamente após Ele ressuscitar dentre os mortos e Se reunir com Seus seguidores, foi passar para eles, como um dom de Seu Pai (conforme Atos 2:23), este mesmo poder pelo qual Ele viveu, triunfou e quebrou as barreiras de suas próprias limitações humanas. No mesmo dia de Sua ressurreição, Ele veio até eles, trancados por seus temores, 'soprou' sobre eles e disse, 'Recebei o Espírito Santo' (João 20:22)” (Hawthorne, p. 235).
A questão é que a missão de Jesus não estava acabada. Ela meramente passou para uma nova fase. Jesus continua a missão Lhe dada pelo Seu Pai, enviando Seus discípulos no mesmo poder com/pelo qual o Pai Lhe enviou, i.e., o poder do Espírito Santo.
O problema proposto por João 20:22 - Em Atos, o Espírito Santo veio no dia de Pentecoste, 50 dias após a ressurreição, enquanto que aqui, em João 20, o Espírito Santo parece vir no dia da ressurreição. João e Lucas estão em conflito? Algumas observações nos ajudarão a resolver este problema:
† Não há relatos contraditórios do mesmo evento: em João temos uma reunião secreta e restrita, à noite, somente dos discípulos, e Jesus está pessoalmente presente; mas em Atos, temos uma reunião pública, no meio da manhã, com a congregação inteira de Jerusalém presente, mas Jesus está ausente.
† João 20:22 não descreve a “regeneração” ou o “novo nascimento” deles: (a) eles já estavam “limpos” (João 13:10); seus nomes já estavam escritos no céu (Lucas 10:20); Pedro tinha testificado abertamente que Jesus era o Cristo (Mateus 16:16-17; cf. João 16:30); veja também João 17:8-19, onde Jesus se refere a eles como já pertencendo ao Pai; (b) esta impartição do Espírito não está relacionada com a conversão deles, mas com o comissionamento (“Eu também vos envio a vós”, v. 21).
† A vinda do Espírito é diretamente dependente da ida do Filho. Veja João 7:37-39 e 16:7. O envio do Espírito Santo é contingente da ascensão do Filho. Jesus é representado aqui como não tendo ainda ascendido (João 20:17). Portanto, este não é um “Pentecoste Joanino”.
† “Soprar” é obviamente simbólico. Pneuma pode ser traduzido por “vento,” “sopro,” “ar” e “espírito”. Conforme Gênesis 2:7; Ezequiel 37:2-4,9. Este último texto sugere que “assim como de um bocado de barro ou de um monte de ossos brancos num vale, foi produzido vida pelo sopro de Deus, assim agora, aos seguidores de Jesus, está sendo dada a oportunidade de produzir vida, com uma nova vitalidade espiritual, pelo mesmo sopro de Deus” (Hawthorne, p. 236).
† O texto grego tem sido interpretado diferentemente. D. A. Carson, por exemplo, argumenta que não é dito “ele soprou sobre eles”, mas meramente que “ele soprou”, ou “ele exalou”. Ele assinala que este é o único lugar onde este verbo aparece no Novo Testamento, mas em todas as suas ocorrências na Septuaginta, há uma preposição acompanhante (tais como “para” ou “em” ou “sobre” ) ou alguma frase auxiliar. Assim, Carson conclui que “o próprio verbo emphysao, quando não sobrecarregado por alguma expressão auxiliar, especificando a pessoa ou coisa sobre quem ou para quem o sopro é soprado, significa simplesmente 'soprar'”. Deve ser notado que a visão de Carson é defendida por poucos e que tem sido desafiada diversas vezes.
Há três interpretações possíveis do que Jesus fez:
1) Alguns (incluindo Gary Burge; veja seu comentário sobre João nas séries NIV Application [Zondervan]) contende que houve uma unção genuína e plena do Espírito e que esta passagem não deve ser lançada contra os eventos de Atos 2.
2) Outros concluem que isto constitui uma impartição preliminar do Espírito, em antecipação do dom completo que viria no Pentecoste. Calvino se referiu a João 20:22 como uma “aspersão” do Espírito Santo e a Atos 2 como uma “saturação”! Chave: Lucas 24:49 claramente ensina que no Pentecoste, os seguidores de Jesus receberiam a plenitude do poder divino = Espírito Santo. Portanto, seja o que for que tenha ocorrido em João 20:22, este foi uma prova do Pentecoste, não a “refeição completa”; ele foi, no máximo, uma capacitação transitória dos discípulos entre a Páscoa e o Pentecoste.
Alguns têm argumentado que isto não foi uma impartição plena do Espírito, apontando o fato de que as vidas dos discípulos mudaram pouco como resultado dela. Eles ainda viviam em temor (20:26), voltaram à sua ocupação anterior (21:1-3) e insistiam em comparar registros de serviço/lealdade num jogo virtual de concorrência espiritual (21:20-22).
3) Outros insistem que não houve uma real impartição do Espírito Santo. Antes, João 20:22 é uma parábola real, i.e., uma promessa simbólica do poder vindouro do Espírito Santo, que não foi cumprido até o dia de Pentecoste.
Resumindo: importa pouco se esta foi uma doação de poder parcial em antecipação do Pentecoste, ou simplesmente um ato simbólico ou uma parábola profética apontando para o Pentecoste. O fato permanece que o principal interesse do Filho, após Sua ressurreição, é o dom do Espírito à Igreja, para a perpetuação da missão divina que Ele iniciou.
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